tag:blogger.com,1999:blog-7875779566781960772024-02-19T23:28:52.814-08:00EscriativarEscrita Criativa - Escrita Criativa Exercícios - Escrita Criativa Literatura - Escrita Criativa Cinema - Escrita Criativa Dramaturgia - Escrita Criativa Teatro - Escrita Criativa Crítica - Escrita Criativa Sociedade - Escrita Criativa Workshop - Escrita Criativa CursosLuís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-56665202169845288542009-07-10T18:47:00.000-07:002009-07-10T18:51:35.308-07:00Cena do Ódio<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/bm0JxtLdZfk&hl=pt-br&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/bm0JxtLdZfk&hl=pt-br&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><br /><br /><br /><strong>Cena do Ódio</strong> <br /><br /><em>A Álvaro de Campos a dedicação intensa de todos os meus avatares.<br />Foi escrito durante os três dias e as três noites que <br />durou a revolução de 14 de Maio de 1915 </em><br /><br />Ergo-Me Pederasta apupado d'imbecis, <br />Divinizo-Me Meretriz, ex-líbris do Pecado, <br />e odeio tudo o que não Me é por Me rirem o Eu! <br />Satanizo-Me Tara na Vara de Moisés! <br />O castigo das serpentes é-Me riso nos dentes, <br />Inferno a arder o Meu Cantar! <br />Sou Vermêlho-Niagara dos sexos escancarados nos chicotes <br />dos cossácos! <br />Sou Pan-Demónio-Trifauce enfermiço de Gula! <br />Sou Génio de Zaratrusta em Taças de Maré-Alta! <br />Sou Raiva de Medusa e Danação do Sol! <br />Ladram-Me a Vida por vivê-La <br />e só Me deram Uma! <br />Hão-de lati-La por sina! <br />Agora quero vivê-La! <br />Hei-de Poeta cantá-La em Gala sonora e dina <br />Hei-de Glória desanuviá-La! <br />Hei-de Guindaste içá-La Esfinge <br />da Vala pedestre onde Me querem rir! <br />Hei-de trovão-clarim levá-La Luz <br />às Almas-Noites do Jardim das Lágrimas! <br />Hei-de bombo rufá-La pompa de Pompeia <br />nos Funerais de Mim! <br />Hei-de Alfange-Mahoma <br />cantar Sodoma na Voz de Nero! <br />Hei-de ser Fuas sem Virgem do Milagre, <br />hei-de ser galope opiado e doido, opiado e doido... <br />Hei-d' Átila, hei-de Nero, hei-de Eu, <br />cantar Atila, cantar Nero, cantar Eu! <br />Sou Narciso do Meu Ódio! <br />- O Meu ódio é Lanterna de Diógenes, <br />é cegueira de Diógenes, <br />é cegueira da Lanterna! <br />(O Meu Ódio tem tronos d' Herodes, <br />histerismos de Cleópatra, perversões de Catarina!) <br />O Meu ódio é Dilúvio Universal sem Arcas de Noé, só <br />Dilúvio Universal! <br />e mais Universal ainda: <br />Sempre a crescer, sempre a subir... <br />até apagar o Sol! <br />Sou trono de Abandono, mal-fadado, <br />nas iras dos Bárbaros meus Avós. <br />Oiço ainda da Berlinda d'Eu ser sina <br />gemidos vencidos de fracos, <br />ruídos famintos de saque, <br />ais distantes de Maldição eterna em Voz antiga! <br />Sou ruínas rasas, inocentes <br />como as asas de rapinas afogadas. <br />Sou relíquias de mártires impotentes <br />sequestradas em antros do Vício. <br />Sou clausura de Santa professa, <br />Mãe exilada do Mal, Hóstia d'Angústia no Claustro, <br />freira demente e donzela, <br />virtude sozinha da cela <br />em penitência do sexo! <br />Sou rasto espezinhado d'Invasores <br />que cruzaram o meu sangue, desvirgando-o. <br />Sou a Raiva atávica dos Távoras, <br />o sangue bastardo de Nero, <br />o ódio do último instante <br />do Condenado inocente! <br />A podenga do Limbo mordeu raivosa <br />as pernas nuas da minh'Alma sem baptismo... <br />Ah! que eu sinto, claramente, <br />que nasci de uma praga de ciúmes! <br />Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a Alma dos Bórgias a <br />penar! <br />Tu, que te dizes Homem! <br />Tu, que te alfaiatas em modas <br />e fazes cartazes dos fatos que vestes<br /><br />p'ra que se não vejam as nódoas de baixo! <br />Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias, <br />as Políticas, as Artes e as Leis, <br />e outros quebra-cabeças de sala <br />e outros dramas de grande espectáculo <br />Tu, que aperfeiçoas sabiamente a arte de matar. <br />Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança <br />e o Caminho Marítimo da índia <br />e as duas Grandes Américas, <br />e que levaste a chatice a estas Terras <br />e que trouxeste de lá mais gente p'raqui <br />e qu'inda por cima cantaste estes Feitos... <br />Tu, qu'inventaste a chatice e o balão, <br />e que farto de te chateares no chão <br />te foste chatear no ar, <br />e qu'inda foste inventar submarinos <br />p'ra te chateares também por debaixo d'água, <br />Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas <br />e que nunca descobriste que eras bruto, <br />e que nunca inventaste a maneira de o não seres <br />Tu consegues ser cada vez mais besta <br />e a este progresso chamas Civilização! <br />Vai vivendo a bestialidade na Noite dos meus olhos, <br />vai inchando a tua ambição-toiro <br />'té que a barriga te rebente rã. <br />Serei Vitória um dia -Hegemonia de Mim! <br />e tu nem derrota, nem morto, nem nada. <br />O Século-dos-Séculos virá um dia <br />e a burguesia será escravatura <br />se for capaz de sair de Cavalgadura! <br />Hei-de, entretanto, gastar a garganta <br />a insultar-te, ó besta! <br />Hei-de morder-te a ponta do rabo <br />e por-te as mãos no chão, no seu lugar! <br />Ahi! Saltimbanco-bando de bandoleiros nefastos! <br />Quadrilheiros contrabandistas da Imbecilidade! <br />Ahi! Espelho-aleijão do Sentimento, <br />macaco-intruja do Alma-realejo! <br />Ahi! macrelle da Ignorância! <br />Silenceur do Génio-Tempestade! <br />Spleen da Indigestão! <br />Ahi! meia-tigela, travão das Ascensões! <br />Ahi! povo judeu dos Cristos mais que Cristo! <br />Ó burguesia! Ó ideal com i pequeno <br />Ó ideal ricócó dos Mendes e Possidonios <br />Ó cofre d'indigentes <br />Cuja personalidade é a moral de todos! <br />Ó geral da mediocridade! <br />Ó claque ignóbil do Vulgar, protagonista do normal! <br />Ó Catitismo das lindezas d'estalo! <br />Ahi! lucro do fácil, <br />cartilha-cabotina dos limitados, dos restringidos! <br />Ai! dique-impecilho do Canal da Luz! <br />Ó coito d'impotentes <br />a corar ao sol no riacho da Estupidez! <br />Ahi! Zero-barómetro da Convicção! <br />bitola dos chega, dos basta, dos não quero mais! <br />Ahi! Plebeísmo Aristocratizado no preço do panamá! <br />erudição de calça de xadrez! <br />competência de relógio d'oiro <br />e correntes com suores do Brasil, <br />e berloques de cornos de búfalo! <br />E eu vivo aqui desterrado e Job <br />da Vida-gémea d'Eu ser feliz! <br />E eu vivo aqui sepultado vivo <br />na Verdade de nunca ser Eu! <br />Sou apenas o Mendigo de Mim-Próprio, <br />órfão da Virgem do meu sentir. <br />E como queres que eu faça fortuna <br />se Deus, por escárnio, me deu Inteligência, <br />e não tenho sequer, irmãs bonitas <br />nem uma mãe que se venda para mim? <br />(Pesam quilos no Meu querer <br />as salas de espera de Mim.<br /><br />Tu chegas sempre primeiro... <br />Eu volto sempre amanhã... <br />Agora vou esperar que morras. <br />Mas tu és tantos que não morres... <br />Vou deixar d'esp'rar que morras <br />- Vou deixar d'esp'rar por mim!) <br />Ah! que eu sinto, claramente, que nasci <br />de uma praga de ciúmes! <br />Eu sou as sete pragas sobre o Nilo <br />e a alma dos Bórgias a penar! <br />E tu, também, vieille-roche, castelo medieval <br />fechado por dentro das tuas ruínas! <br />Fiel epitáfio das crónicas aduladoras! <br />E tu também ó sangue azul antigo <br />que já nasceste co'a biografia feita! <br />Ó pajem loiro das cortesias-avozinhas! <br />Ó pergaminho amarelo-múmia <br />das grandes galas brancas das paradas <br />e das Vitórias dos torneios-lotarias <br />com donzelas-glórias! <br />Ó resto de cetros, fumo de cinzas! <br />Ó lavas frias do Vulcão pirotécnico <br />com chuvas d'oiros e cabeleiras prateadas! <br />Ó estilhacos heráldicos de Vitrais <br />despegados lentamente sobre o tanque do silêncio! <br />Ó Cedro secular <br />debruçado no muro da Quinta sobre a estrada <br />a estorvar o caminho da Mala-posta! <br />E vós também, ó Gentes de Pensamento, <br />ó Personalidades, ó Homens! <br />Artistas de todas as partes, cristãos sem pátria, <br />Cristos vencidos por serem só Um! <br />E vós, ó Génios da Expressão, <br />e vós também, ó Génios sem Voz! <br />ó além-infinito sem regressos, sem nostalgias, <br />Espectadores gratuitos do Drama-Imenso de Vós-Mesmos! <br />Profetas clandestinos <br />do Naufrágio de Vossos Destinos! <br />E vós também, teóricos-irmãos-gémeos <br />do meu sentir internacional! <br />Ó escravos da Independência! <br />Vós que não tendes prémios <br />por se ter passado a vez de os ganhardes, <br />e famintos e covardes <br />entreteis a fome em revoltas do Mau-Génio <br />no boémia da bomba e da pólvora! <br />E tu também, ó Beleza Canalha <br />Co'a sensibilidade manchada de vinho! <br />Ó lírio bravo da Floresta-Ardida <br />à meia-porta da tua Miséria! <br />Ó Fado da Má-Sina <br />com ilustrações a giz <br />e letra da Maldição! <br />Ó fera vadia das vielas açaimada na Lei! <br />Ó xale e lenço a resguardar a tísica! <br />Ó franzinas do fanico <br />co'a sífilis ao colo por essas esquinas! <br />Ó nu d'aluguer <br />na meia-luz dos cortinados corridos! <br />Ó oratório da meretriz a mendigar gorjetas <br />p'rá sua Senhora da Boa-Sorte! <br />Ó gentes tatuadas do calão! <br />carro vendado da Penitenciária! <br />E tu também, ó Humilde, ó Simples! <br />enjaulados na vossa ignorância! <br />Ó pé descalço a calejar o cérebro! <br />Ó músculos da saúde de ter fechada a casa de pensar! <br />Ó alguidar de açorda fria <br />na ceia-fadiga da dor-candeia! <br />Ó esteiras duras pra dormir e fazer filhos! <br />Ó carretas da Voz do Operário <br />com gente de preto a pé e filarmónica atrás! <br />Ó campas rasas, engrinaldadas, <br />com chapões de ferro e balões de vidro!<br /><br />Ó bota rota de mendigo abandonada no pó do caminho! <br />Ó metamorfose-selvagem das feras da cidade! <br />Ó geração de bons ladrões crucificados na Estupidez! <br />Ó sanfona-saloia do fandango dos campinos! <br />Ó pampilho das Lezírias inundadas de Cidade! <br />ó trouxa d'aba larga da minha lavadeira, <br />Ó rodopio azul da saia azul de Loures! <br />E vós varinas que sabeis a sal <br />as Naus da Fenícia ainda não voltaram?! <br />E vós também, ó moças da Província <br />que trazeis o verde dos campos <br />no vermelho das faces pintadas! <br />E tu também, ó mau gosto <br />co'a saia de baixo a ver-se <br />e a falta d'educação! <br />Ó oiro de pechisbeque (esperteza dos ciganos) <br />a luzir no vermelho verdadeiro da blusa de chita! <br />Ó tédio do domingo com botas novas <br />e música n'Avenida! <br />Ó santa Virgindade <br />a garantir a falta de lindeza! <br />Ó bilhete postal ilustrado <br />com aparições de beijos ao lado! <br />E vós ó gentes que tendes patrões, <br />autómatos do dono a funcionar barato! <br />Ó criadas novas chegadas de fora p'ra todo o serviço! <br />Ó costureiras mirradas, <br />emaranhadas na vossa dor! <br />Ó reles caixeiros, pederastas do balcão, <br />a quem o patrão exige modos lisonjeiros <br />e maneiras agradáveis pròs fregueses! <br />Ó Arsenal fadista de ganga azul e coco socialista! <br />Ó saídas pôr-do-sol das Fábricas d'Agonia! <br />E vós também, ó toda a gente, que todos tendes patrões! <br />E vós também, nojentos da Política <br />que explorais eleitos o Patriotismo! <br />Macrots da Pátria que vos pariu ingénuos <br />e vos amortalha infames! <br />E vós também, pindéricos jornalistas <br />que fazeis cócegas e outras coisas <br />à opinião pública! <br />E tu também roberto fardado: <br />Futrica-te espantalho engalonado, <br />apoia-te das patas de barro, <br />Larga a espada de matar <br />e põe o penacho no rabo! <br />Ralha-te mercenário, asceta da Crueldade! <br />Espuma-te no chumbo da tua Valentia! <br />Agoniza-te Rilhafoles armado! <br />Desuniversidadiza-te da doutorança da chacina, <br />da ciencia da matança! <br />Groom fardado da Negra, <br />pária da Velha! <br />Encaveira-te nas esporas luzidias de seres fera! <br />Despe-te da farda, <br />desenfia-te da Impostura, e põe-te nu, ao léu <br />que ficas desempregado! <br />Acouraça-te de senso, <br />vomita de vez o morticínio, <br />enche o pote de raciocínio, <br />aprende a ler corações, <br />que há muito mais que fazer <br />do que fazer revoluções! <br />Ruína com tuas próprias peças-colossos <br />as tuas próprias peças colossais, <br />que de 42 a 1 é meio-caminho andado! <br />Rebusca no seres selvagem <br />no teu cofre do extermínio <br />o teu calibre máximo! <br />Põe de parte a guilhotina, <br />dá férias ao garrote! <br />Não dês língua aos teus canhões, <br />nem ecos às pistolas, <br />nem vozes às espingardas!<br /><br />– São coisas fora de moda! <br />Põe-te a fazer uma bomba <br />que seja uma bomba tamanha <br />que tenha dez raios da Terra. <br />Põe-lhe dentro a Europa inteira, <br />os dois pólos e as Américas, <br />a Palestina, a Grécia, o mapa <br />e, por favor, Portugal! <br />Acaba de vez com este planeta, <br />faze-te Deus do Mundo em dar-lhe fim! <br />(Há tanta coisa que fazer, Meu Deus! <br />e esta gente distraída em guerras!) <br />Eu creio na transmigração das almas <br />por isto de Eu viver aqui em Portugal. <br />Mas eu não me lembro o mal que fiz <br />durante o Meu avatar de burguês. <br />Oh! Se eu soubesse que o Inferno <br />não era como os padres mo diziam: <br />uma fornalha de nunca se morrer... <br />mas sim um Jardim da Europa <br />à beira-mar plantado... <br />Eu teria tido certamente mais juízo, <br />teria sido até o mártir São Sebastião! <br />E inda há quem faça propaganda disto: <br />a pátria onde Camões morreu de fome <br />e onde todos enchem a barriga de Camões! <br />Se ao menos isto tudo se passasse <br />numa Terra de mulheres bonitas! <br />Mas as mulheres portuguesas <br />são a minha impotência! <br />E tu, meu rotundo e pançudo-sanguessugo, <br />meu desacreditado burguês apinocado <br />da rua dos bacalhoeiros do meu ódio <br />co'a Felicidade em casa a servir aos dias! <br />Tu tens em teu favor a glória fácil <br />igual à de outros tantos teus pedaços <br />que andam desajuntados neste Mundo, <br />desde a invenção do mau cheiro, <br />a estorvar o asseio geral. <br />Quanto mais penso em ti, mais tenho Fé e creio <br />que Deus perdeu de vista o Adão de barro <br />e com pena fez outro de bosta de boi <br />por lhe faltar o barro e a inspiração! <br />E enquanto este Adão dormia <br />os ratos roeram-lhe os miolos, <br />e das caganitas nasceu a Eva burguesa! <br />Tu arreganhas os dentes quando te falam d'Orpheu <br />e pões-te a rir, como os pretos, sem saber porquê. <br />E chamas-me doido a Mim <br />que sei e sinto o que Eu escrevi! <br />Tu que dizes que não percebes; <br />rir-te-has de não perceberes? <br />Olha Hugo! Olha Zola, Cervantes e Camões, <br />e outros que não são nada por te cantarem a ti! <br />Olha Nietzche! Wilde! Olha Rimbaub e Dowson! <br />Cesário, Antero e outros tantos mundos! <br />Beethoven, Wagner e outros tantos génios <br />que não fizeram nada, <br />que deixaram este mundo tal qual! <br />Olha os grandes o que são estragados por ti! <br />O teu máximo é ser besta e ter bigodes. <br />A questão é estar instalado. <br />Se te livras de burguês e sobes a talento, a génio, <br />a seres alguém, <br />o Bem que tu fizeres é um décimo de seres fera! <br />E de que serve o livro e a ciência <br />se a experiência da vida <br />é que faz compreender a ciência e o livro? <br />Antes não ter ciências! <br />Antes não ter livros! <br />Antes não ter Vida! <br />Eu queria cuspir-te a cara e os bigodes, <br />quando te vejo apalermado p'las esquinas <br />a dizeres piadas às meninas,<br /><br />e a gostares das mulheres que não prestam <br />e a fazer-lhes a corte <br />e a apalpar-lhes o rabo, <br />esse tão cantado belo cu <br />que creio ser melhor o teu ideal <br />que a própria mulher do cu grande! <br />E casaste-te com Ela, <br />porque o teu ideal veio pegado a Ela, <br />e agora à brocha limpas a calva em pinga <br />à coca de cunhas p'ró Cunha examinador <br />do teu décimo nono filho <br />dezanove vezes parvo! <br />(É o caso mais exemplar de Constância e fidelidade <br />a tua história sexual co'a Felisberta, <br />desde o teu primogénito tanso <br />'té ao décimo nono idiota.) <br />'Té no matrimónio te maldigo, infame cobridor! <br />Espécie de verme das lamas dos pântanos <br />que de tanto se encharcar em gozos <br />o seu corpo se atrofiou <br />e o sexo elefantizado foi todo o seu corpo! <br />Em toda a parte tu és o admirador <br />e em toda a parte a tua ignorância <br />tem a cumplicidade da incompetência <br />dos que te falam 'té dos lugares sagrados. <br />Sim! Eu sei que tu és juiz <br />e qu'inda ontem prometeste a tua amante, <br />despedindo-a num beijo de impotente, <br />a condenação dos réus que tivesses <br />se Ela faltasse à matinée da Boa-Hora! <br />Pulha! E és tu que do púlpito <br />d'essa barriga d'Água da Curia <br />dás a ensinança de trote <br />aos teus dezanove filhos?! <br />Cocheiros, contai: dezanove!!! <br />Zute! bruto-parvo-nada <br />que Me roubaste tudo: <br />'té Me roubaste a Vida <br />e não Me deixaste nada! <br />nem Me deixaste a Morte! <br />Zute! poeira-pingo-micróbio <br />que gemes pequeníssimos gemidos gigantes <br />grávido de uma dor profeta colossal. <br />Zute! elefante-berloque parasita do não presta! <br />Zute! bugiganga-celulóide-bagatela! <br />Zute, besta! <br />Zute, bácoro!! <br />Zute, merda!!! <br />Em toda a parte o teu papel é admirar, <br />mas (caso inf'liz) <br />nunca acertas numa admiração feliz. <br />Lês os jornais e admiras tudo do princípio ao fim <br />e se por desgraça vem um dia sem jornais, <br />tens de ficar em casa nos chinelos <br />porque nesse dia, felizmente, <br />não tens opinião pra levares à rua. <br />Mas nos outros dias lá estás a discutir. <br />É que a Natureza é compensadora: <br />quem não tem dinheiro p'ra ir ao Coliseu <br />deve ter cá fora razões p'ra se rir. <br />Só te oiço dizer dos outros <br />a inveja de seres como eles. <br />Nem ao menos, pobre fadista, <br />a veleidade de seres mais bruto? <br />Até os teus desejos são avaros <br />como as tuas unhas sujas e ratadas. <br />Ó meu gordo pelintrão, <br />água-morna suja, broa do outro v'rao! <br />Os homens são na proporção dos seus desejos <br />e é por isso que eu tenho a Concepção do Infinito... <br />Não te cora ser grande o teu avô <br />e tu apenas o seu neto, e tu apenas o seu esperma? <br />Não te dói Adão mais que tu? <br />Não te envergonha o teres antes de ti<br /><br />outros muito maiores que tu? <br />Jamais eu quereria vir a ser um dia <br />o que o maior de todos já o tivesse sido <br />eu quero sempre muito mais <br />e mais ainda muito pr'além-demais-Infinito... <br />Tu não sabes, meu bruto, que nós vivemos tão pouco <br />que ficamos sempre a meio-caminho do Desejo? <br />Em toda a parte o bicho se propaga, <br />em toda a parte o nada tem estalagem. <br />O meu suplício não é somente de seres meu patrício <br />ou o de ver-te meu semelhante, <br />tu, mesmo estrangeiro, és besta bastante. <br />Foi assim que te encontrei na Rússia <br />como vegetas aqui e por toda a parte, <br />e em todos os ofícios e em todas as idades. <br />Lá suportei-te muito! Lá falavas russo <br />e eu só sabia o francês. <br />Mas na França, em Paris - a grande capital, <br />apesar de fortificada, <br />foi assolada por esta espécie animal. <br />E andam p'los cafés como as pessoas <br />e vestem-se na moda como elas, <br />e de tal maneira domésticos <br />que até vão às mulheres <br />e até vão aos domésticos. <br />Felizmente que na minha pátria, <br />a minha verdadeira mãe, a minha santa Irlanda, <br />apenas vivi uns anos d'Infância, <br />apenas me acodem longinquamente <br />as festas ensuoradas do priest da minha aldeia, <br />apenas ressuscitam sumidamente <br />as asfixias da tísica-mater, <br />apenas soam como revoltas <br />as pistolas do suicídio de meu pai, <br />apenas sinto infantilmente <br />no leito de uma morta <br />o gelo de umas unhas verdes, <br />um frio que não é do Norte, <br />um beijo grande como a vida de um tísico a morrer. <br />Ó Deus! Tu que m'os levaste é que sabias <br />o ódio que eu lhes teria <br />se não tivessem ficado por ali! <br />Mas antes, mil vezes antes, aturar os burgueses da My <br />Ireland <br />que estes desta Terra <br />que parece a pátria deles! <br />Ó Horror! Os burgueses de Portugal <br />têm de pior que os outros <br />o serem portugueses! <br />A Terra vive desde que um dia <br />deixou de ser bola do ar <br />p'ra ser solar de burgueses. <br />Houve homens de talento, génios e imperadores. <br />Precisaram-se de ditadores, <br />que foram sempre os maiores. <br />Cansou-se o mundo a estudar <br />e os sábios morreram velhos <br />fartos de procurar remédios, <br />e nunca acharam o remédio de parar. <br />E inda eu hoje vivo no século XX <br />a ver desfilar burgueses <br />trezentas e sessenta e cinco vezes ao ano, <br />e a saber que um dia <br />são vinte e quatro horas de chatice <br />e cada hora sessenta minutos de tédio <br />e cada minuto sessenta segundos de spleen! <br />Ora bolas para os sábios e pensadores! <br />Ora bolas para todas as épocas e todas as idades! <br />Bolas pròs homens de todos os tempos, <br />e prà intrujice da Civilização e da Cultura! <br />Eu invejo-te a ti, ó coisa que não tens olhos de ver! <br />Eu queria como tu sentir a beleza de um almoço pontual <br />e a f'licidade de um jantar cedinho <br />co'as bestas da família.<br /><br />Eu queria gostar das revistas e das coisas que não prestam <br />porque são muitas mais que as boas <br />e enche-se o tempo mais! <br />Eu queria, como tu, sentir o bem-estar <br />que te dá a bestialidade! <br />Eu queria, como tu, viver enganado da vida e da mulher, <br />e sem o prazer de seres inteligente pessoalmente! <br />Eu queria, como tu, não saber que os outros não valem nada <br />p'ra os poder admirar como tu! <br />Eu queria que a vida fosse tão divinal <br />como tu a supões, como tu a vives! <br />Eu invejo-te, ó pedaço de cortiça <br />a boiar à tona d'água, à mercê dos ventos, <br />sem nunca saber que fundo que é o Mar! <br />Olha para ti! <br />Se te não vês, concentra-te, procura-te! <br />Encontrarás primeiro o alfinete <br />que espetaste na dobra do casaco, <br />e depois não percas o sítio, <br />porque estás decerto ao pé do alfinete. <br />Espeta-te nele para não te perderes de novo, <br />e agora observa-te! <br />Não te escarneças! Acomoda-te em sentido! <br />Não te odeies ainda qu'inda agora começaste! <br />Enioa-te no teu nojo, mastodonte! <br />Indigesta-te na palha dessa tua civilização! <br />Desbesunta te dessa vermência! <br />Destapa a tua decência, o teu imoral pudor! <br />Albarda te em senso! Estriba-te em Ser! <br />Limpa-te do cancro amarelo e podre! <br />Do lazareto de seres burro! <br />Desatrela-te do cérebro-carroça! <br />Desata o nó-cego da vista! <br />Desilustra-te, descultiva-te, despole-te, <br />que mais vale ser animal que besta! <br />Deixa antes crescer os cornos que outros adornos da <br />Civilização! <br />Queria-te antes antropófago porque comias os teus <br />– talvez o mundo fosse Mundo <br />e não a retrete que é! <br />Ahi! excremento do Mal, avergonha-te <br />no infinitamente pequeno de ti com o teu papagaio: <br />Ele fala como tu e diz coisas que tu dizes <br />e se não sabe mais é por tua culpa, meu mandrião! <br />E tu, se não fossem os teus pais, <br />davas guinchos, meu saguim! <br />- Tu és o papagaio de teus pais! <br />Mas há mais, muito mais <br />que a tua ignorância-miopia te cega. <br />Empresto-te a minha Inteligência. <br />Vê agora e não desmaies ainda! <br />Então eu não tinha razão? <br />P'ra que me chamavas doido <br />quando eu m'enjoava de ti? <br />Ah! Já tens medo?! <br />Porque te rias da vida <br />e ias ensuorar as vrilhas nos fauteuils das revistas <br />co'as pernas fogo de vistas <br />das coristas de petróleo? <br />Porque davas palmas aos compéres e actorecos <br />pelintras e fantoches <br />antes do palco, no palco e depois do palco? <br />Ora dize-Me com franqueza: <br />Era por eles terem piada? <br />Então era por a não terem <br />Ah! Era p'ra tu teres piada, meu bruto?! <br />Porque mandaste de castigo os teus filhos p'r'ás Belas-Artes <br />quando ficaram mal na instrução primária? <br />Porque é que dizes a toda a gente que o teu filho idiota <br />estuda p'ra poeta? <br />Porque te casaste com a tua mulher <br />se dormes mais vezes co'a tua criada? <br />Porque bateste no teu filho quando a mestra <br />te contou as indecências na aula?<br /><br />Não te lembras das que tu fizeste <br />com a própria mestra de moral? <br />Ou queres tu ser decente, <br />tu, que tens dezanove filhos?! <br />Porque choraste tanto quando te desonraram a filha? <br />Porque lhe quiseste matar o amante? <br />Não achas isto natural? Não achas isto interessante? <br />Porque não choraste também pelo amante?... <br />Deixa! Deixa! Eu não te quero morto com medo de ti-próprio! <br />Eu quero-te vivo, muito vivo, a sofrer! <br />Não te despetes do alfinete! <br />Eu abro a janela pra não cheirar mal! <br />Galopa a tua bestialidade <br />na memória que eu faço dos teus coices, <br />cavalga o teu insecticismo na tua sela de D. Duarte! <br />Arreia-te de Bom-Senso um segundo! peço-te de joelhos. <br />Encabresta-te de Humanidade <br />e eu passo-te uma zoologia para as mãos <br />p'ra te inscreveres na divisão dos Mamíferos. <br />Mas anda primeiro ao Jardim Zoológico! <br />Vem ver os chimpanzés! Acorpanzila-te neles se te ousas! <br />Sagra-te de cu-azul a ver se eles te querem! <br />Lá porque aprendeste a andar de mãos no ar <br />não quer dizer que sejas mais chimpanzé que eles! <br />Larga a cidade masturbadora, febril, <br />rabo decepado de lagartixa, <br />labirinto cego de toupeiras, <br />raça de ignóbeis míopes, tísicos, tarados, <br />anémicos, cancerosos e arseniados! <br />Larga a cidade! <br />Larga a infâmia das ruas e dos boulevards <br />esse vaivém cínico de bandidos mudos <br />esse mexer esponjoso de carne viva <br />Esse ser-lesma nojento e macabro <br />Esse S ziguezague de chicote auto-fustigante <br />Esse ar expirado e espiritista... <br />Esse Inferno de Dante por cantar <br />Esse ruído de sol prostituído, impotente e velho <br />Esse silêncio pneumónico <br />de lua enxovalhada sem vir a lavadeira! <br />Larga a cidade e foge! <br />Larga a cidade! <br />Vence as lutas da família na vitória de a deixar. <br />Larga a casa, foge dela, larga tudo! <br />Nem te prendas com lágrimas, que lágrimas são cadeias! <br />Larga a casa e verás - vai-se-te o Pesadelo! <br />A família é lastro, deita-a fora e vais ao céu! <br />Mas larga tudo primeiro, ouviste? <br />Larga tudo! <br />– Os outros, os sentimentos, os instintos, <br />e larga-te a ti também, a ti principalmente! <br />Larga tudo e vai para o campo <br />e larga o campo também, larga tudo! <br />– Põe-te a nascer outra vez! <br />Não queiras ter pai nem mãe, <br />não queiras ter outros nem Inteligência! <br />A Inteligência é o meu cancro <br />eu sinto-A na cabeça com falta de ar! <br />A Inteligência é a febre da Humanidade <br />e ninguém a sabe regular! <br />E já há Inteligência a mais pode parar por aqui! <br />Depois põe-te a viver sem cabeça, <br />vê só o que os olhos virem, <br />cheira os cheiros da Terra <br />come o que a Terra der, <br />bebe dos rios e dos mares, <br />- põe-te na Natureza! <br />Ouve a Terra, escuta-A. <br />A Natureza à vontade só sabe rir e cantar! <br />Depois, põe-te a coca dos que nascem <br />e não os deixes nascer. <br />Vai depois pla noite nas sombras <br />e rouba a toda a gente a Inteligência <br />e raspa-lhos a cabeça por dentro<br /><br />co'as tuas unhas e cacos de garrafa, <br />bem raspado, sem deixar nada, <br />e vai depois depressa muito depressa <br />sem que o sol te veja <br />deitar tudo no mar onde haja tubarões! <br />Larga tudo e a ti também! <br />Mas tu nem vives nem deixas viver os mais, <br />Crápula do Egoísmo, cartola d'espanta-pardais! <br />Mas hás-de pagar-Me a febre-rodopio <br />novelo emaranhado da minha dor! <br />Mas hás-de pagar-Me a febre-calafrio <br />abismo-descida de Eu não querer descer! <br />Hás-de pagar-Me o Absinto e a Morfina <br />Hei-de ser cigana da tua sina <br />Hei-de ser a bruxa do teu remorso <br />Hei-de desforra-dor cantar-te a buena-dicha <br />em águas fortes de Goya <br />e no cavalo de Tróia <br />e nos poemas de Poe! <br />Hei-de feiticeira a galope na vassoura <br />largar-te os meus lagartos e a Peçonha! <br />Hei-de Vara Magica encantar-te Arte de Ganir <br />Hei-de reconstruir em ti a escravatura negra! <br />Hei-de despir-te a pele a pouco e pouco <br />e depois na carne-viva deitar fel, <br />e depois na carne-viva semear vidros, <br />semear gumes, <br />lumes, <br />e tiros. <br />Hei-de gozar em ti as poses diabólicas <br />dos teatrais venenos trágicos do persa Zoroastro! <br />Hei-de rasgar-te as virilhas com forquilhas e croques, <br />e desfraldar-te nas canelas mirradas <br />o negro pendão dos piratas! <br />Hei-de corvo marinho beber-te os olhos vesgos! <br />Hei-de bóia do Destino ser em brasa <br />e tua náufrago das galés sem horizontes verdes! <br />E mais do que isto ainda, muito mais: <br />Hei-de ser a mulher que tu gostes, <br />hei-de ser Ela sem te dar atenção! <br />Ah! que eu sinto claramente que nasci <br />de uma praga de ciúmes. <br />Eu sou as sete pragas sobre o Nilo <br />e a Alma dos Bórgias a penar!... <br />de José Almada Negreiros <br />poeta sensacionista <br />e Narciso do Egipto<br /><br />Almada NegreirosLuís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-66676719291370994052008-02-23T16:19:00.000-08:002008-02-28T17:29:01.437-08:00Como começar - Harold Pinter<div align="justify">"Perguntam-me muitas vezes como nascem as minhas peças. Não sei dizer. Nem sou capaz de resumir nenhuma das minhas peças, só sei dizer: foi isto o que aconteceu. Foi isto que disseram. Foi isto o que fizeram. </div><div align="justify">A maioria das peças nasce de uma frase, uma palavra ou uma imagem. À palavra junta-se quase de seguida uma imagem. Vou dar dois exemplos de duas frases que me vieram à cabeça de forma inesperada e a que logo se seguiu uma imagem, que eu depois segui. As peças são <em>O Regresso A Casa</em> e <em>Há Tanto Tempo</em>. A primeira frase de <em>O Regresso A Casa</em> é: “O que é que fizeste à tesoura?”. A primeira frase de <em>Há Tanto Tempo</em> é “Escuro”. </div><div align="justify">Em qualquer dos casos, eu não tinha mais informações. </div><div align="justify">No primeiro, era evidente que alguém estava à procura de uma tesoura e perguntava pelo seu paradeiro a outra pessoa, de quem suspeitava tê-la roubado. Mas eu sabia, de alguma maneira, que a pessoa a quem a pergunta era feita se estava nas tintas para a tesoura e até mesmo para quem lhe fazia a pergunta. </div><div align="justify">«Escuro» achei que era a descrição do cabelo de alguém, o cabelo de uma mulher, e era a resposta a alguma pergunta. Em qualquer dos casos, senti-me obrigado a prosseguir. Isto passou-se visualmente, numa gradação muito lenta, da sombra para a luz. </div><div align="justify">Quando começo uma peça, chamo sempre A, B ou C às minhas personagens.</div><div align="justify">Na peça que viria a ser <em>O Regresso A Casa</em>, vi um homem entrar numa sala despojada e fazer uma pergunta a outro homem mais novo que estaria sentado num feio sofá a ler um jornal de apostas de cavalos. Tinha a ideia que A seria um pai e B seu filho, mas não tinha qualquer prova. Isso, no entanto, seria confirmado daí a nada quando B (que viria a ser Lenny) diz a A (que viria a ser Max), «Pai, importas-te que eu mude de assunto? Queria fazer-te uma pergunta. O que comemos ao jantar, como é que se chamava? Que nome é que dás àquilo? Porque é que não compras um cão? És um cozinheiro de cães. A sério. Achas que estás a cozinhar para a matilha de cães.» Ou seja, a partir do momento em que B chama «Pai» a A, pareceu-me aceitável que fossem pai e filho. Claramente, A é também o cozinheiro e a sua arte não parecia ser muito apreciada. Quereria isto dizer que não havia mãe? Não sabia. Mas, como disse para comigo na altura, os nossos princípios não sabem como serão os nossos desenlaces."<br /><br />Harold Pinter<br />(Discurso de aceitação do Prémio Nobel, <em>Várias Vozes</em>, 2006, edições Quasi)</div>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-11311132047001603652008-02-23T15:48:00.000-08:002008-02-28T17:43:27.288-08:00A moral da história III - Anthony Nielson<div align="justify">"A escrita teatral é uma daquelas coisas que é tanto subvalorizada como sobrevalorizada. Parece-me que não é preciso explicar isto. Mas nas raras ocasiões em que dou aulas, fico sempre surpreendido porque o dramaturgo é entendido como uma espécie de político sem partido. Neste momento, há alguns escritores muito bons aos quais se pode aplicar esta acusação, mas, para quem está a começar, isso é um fardo muito pesado. Quando eu perguntava aos estudantes, por exemplo, que ideias é que eles tinham, eles respondiam quase sempre com temas. Eles queriam escrever peças sobre o racismo, sobre os sem-abrigo, sobre a erosão da democracia. Eles queriam "dizer alguma coisa" e isto era visto como sendo um requisito fundamental para uma peça de teatro: ela devia "dizer alguma coisa". Claro que estes estudantes estavam frequentemente bloqueados e não eram produtivos. Tinham o seu tema, mas não faziam ideia de como proceder, porque não tinham vontade de aceitar que o dramaturgo é, nem mais nem menos, um contador de histórias - um descendente directo daquela pessoa que se sentava no largo da aldeia a contar histórias às crianças. Quando eram confrontados com isto, muitos dos estudantes eram extraordinariamente resistentes, ficavam desiludidos até, como se a narrativa fosse - em si própria - de alguma maneira, pouco aliciante e estivesse fora de moda. "Contem a história", insistia eu, «e os temas seguirão o seu caminho»."<br /><br />Anthony Neilson<br />Prefácio a <em>PLAYS ONE</em></div>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-57733597940317734622008-02-22T16:08:00.000-08:002008-02-22T16:21:17.103-08:00Entrevista: Callie KhouriEntrevista com a guionista Callie Khouri, vencedora de um <em>Oscar </em>pela escrita de<em> Telma e Louise: </em><a href="http://www.youtube.com/watch?v=-lhqg0i27G0&feature=related"><em>http://www.youtube.com/watch?v=-lhqg0i27G0&feature=related</em></a>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-19479120229267279032008-02-22T15:51:00.000-08:002008-02-22T15:53:07.998-08:00Entrevista: Scott RosenbergEntrevista com o conceituado guionista Scott Rosenberg onde ele fala de Estrutura: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=3CoGjohyUPs&feature=related">http://www.youtube.com/watch?v=3CoGjohyUPs&feature=related</a>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-30904696573942083512008-02-22T15:38:00.000-08:002008-02-22T15:40:31.319-08:00Entrevista: Billy RayEntrevista com o conceituado guionista Billy Ray onde ele fala da importância do SUBTEXTO e do DILEMA nas histórias: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=YkHk4V3w7ow&NR=1">http://www.youtube.com/watch?v=YkHk4V3w7ow&NR=1</a>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-29718397751898432282008-02-22T09:38:00.001-08:002008-02-23T16:10:04.560-08:00Entrevista: Paul HaggisEntrevista com Paul Haggis, guionista vencedor de dois <em>Oscars, </em>um pela escrita de <em>Million Dollar Baby</em> e outro por<em> Crash</em>:<em> </em><a href="http://www.youtube.com/watch?v=soZ5ODeyQmE"><em>http://www.youtube.com/watch?v=soZ5ODeyQmE</em></a><br /><br /><br />Biografia de Paul Haggis: <a href="http://www.imdb.com/name/nm0353673/bio">http://www.imdb.com/name/nm0353673/bio</a>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-55585845951330565982008-02-22T09:29:00.000-08:002008-02-22T09:32:16.141-08:00Entrevista: Joe EszterhasEntrevista com Joe Eszterhas, guionista que escreveu <em>Instinto Fatal, Show Girls,</em> e outros filmes: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=4o4V2pVNsqA&feature=related">http://www.youtube.com/watch?v=4o4V2pVNsqA&feature=related</a>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-60011405966694151382008-02-21T18:29:00.000-08:002008-02-22T06:18:40.882-08:00Estilo Literário - Nabokov"O vocabulário de Tchékhov é pobre, as combinações de palavras são quase banais; são-lhe alheios um verbo sumarento, um adjectivo de estufa, um epíteto de menta e natas servidos numa bandeja de prata. Não foi um virtuose da linguagem como Gógol; a Musa dele vestia sempre a roupa de todos os dias. Por isso é apropriado referir Tchékhov como exemplo de que é possível ser-se artista perfeito mesmo sem o brilho insólito da técnica verbal, sem o cuidado excepcional nas elegantes flexões da frase."<br /><br />Vladimir Nabokov<br />prefácio a <em>CONTOS DE TCHÉKHOV</em>, Volume I, Relógio D'Água, 2001Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-83987440506051358872008-02-21T18:15:00.000-08:002008-02-22T06:11:42.597-08:00O Humor - Nabokov"Tchékhov escrevia livros tristes para pessoas alegres; quero dizer com isto que só um leitor com sentido de humor será capaz de sentir a fundo a tristeza deles. Há escritores que emitem um som intermédio entre o riso abafado e o bocejo - muitos deles, a propósito, são humoristas profissionais. A outros, por exemplo a Dickens, sai uma coisa intermédia da risada e do soluço. Existe também uma variedade horrível de humor utilizada de propósito pelo autor para dar um escape puramente técnico depois de uma tempestuosa cena trágica, mas o truque nada tem a ver com a verdadeira literatura. O humor de Tchékhov é alheio a isso tudo; é um humor puramente <em>tcheckhoviano</em>. O mundo, para ele, é cómico e triste ao mesmo tempo, e sem repararmos na sua comicidade não compreenderemos a sua tristeza, porque são inseparáveis."<br /><br />Vladimir Nabokov<br />prefácio a <em>CONTOS DE TCHÉKHOV, Volume I</em>, Relógio D'Água, 2001Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-81298679176114110892008-02-21T16:52:00.000-08:002008-02-22T06:11:03.984-08:00Escrever um poema pelo poema - Allan Poe"Tem-se suposto , tácita e manifestamente, directa e indirectamente, que o objectivo último de toda a Poesia é a Verdade. Todo o poema, diz-se, deveria inculcar uma moral, e por esta moral é que deve ser julgado o mérito poético do trabalho. Nós, os americanos, temos principalmente patrocinado esta feliz ideia, e nós, <em>bostonianos,</em> mui especialmente, a temos desenvolvido em cheio. Metemos nas nossas cabeças que escrever simplesmente um poema pelo poema e confessar que tal foi o nosso desígnio seria confessar-nos radicalmente carentes da verdadeira dignidade e força poéticas: mas o simples facto é que, se nos permitíssemos olhar para dentro das nossas próprias almas, descobriríamos imediatamente ali que, sob o sol, nem existe nem <em>pode</em> existir qualquer trabalho mais inteiramente dignificado, mais supremamente nobre, do que este mesmo poema, este poema <em>per se,</em> que é um poema e nada mais, este poema escrito somente por ele mesmo."<br /><br />Edgar Allan Poe<br /><em>Poemas E Ensaios,</em> Editora Globo, 1987Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-22458598697187110452008-02-21T16:33:00.000-08:002008-02-22T06:15:19.298-08:00"Um texto dos dias de hoje" - Jorge Silva Melo"Fazer um texto - um texto, um texto, um texto! - dos dias de hoje. Tão de hoje que até haverá partes em que as personagens verão a TV do dia e lerão os jornais da véspera ou desse mesmo dia. Um dia, em que toda a Lisboa andará cantando um qualquer <em>hit </em>que, se fosse em 1993, teria sido o<em> "Esta vida de</em> <em>Marinheiro"</em> e em 1994... o senhor Abrunhosa, que é o que há... Um texto de hoje com as palavras de hoje. [...] ...por que é que em vez de <em>"Temos que trabalhar" </em>tem sempre no teatro que se dizer coisas como <em>"Um pouco mais de luz e eu era brasa!"</em> com voz trémula? Por que é que a poesia do teatro é tão bafienta e deixamos ao <em>rock</em> as palavras dos nossos dias? [...] ...queremos falar de pessoas que sobrevivem e se esganam por sobreviver hoje mesmo. Pessoas como tu e eu que também temos o direito de entrar em cena..."<br /><br />Jorge Silva Melo<br />prefácio de <em>António, um rapaz de Lisboa, </em>Edições Cotovia, 2005Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-1183453096621914842008-02-21T16:08:00.000-08:002008-02-22T06:22:13.078-08:00A moral da história II - Harold Pinter"... não posso deixar de sentir que temos uma tendência marcada para acentuar, com tanto à vontade, as nossas preferências ocas. A preferência pela «Vida» com V maiúsculo, que é supostamente muito diferente da vida com v minúsculo, quero dizer, a vida que de facto vivemos. A preferência pela boa vontade, pela caridade, pela benevolência, tão fáceis que se tornaram estas libertações.<br /><br />Se tivesse que afirmar um preceito moral, seria qualquer coisa como: cuidado com o escritor que expõe a sua causa para que a abracem, que não vos deixa dúvidas sobre o seu valor, a sua utilidade, o seu altruísmo, que declara que o seu coração está no sítio certo e se assegura de que pode ser clara e totalmente visto, uma massa pulsante no sítio onde deviam estar as suas personagens. O que é apresentado, a maior parte das vezes, enquanto corpo de pensamento activo e positivo é de facto um corpo perdido numa prisão de definição vazia e lugar-comum."<br /><br />Harold Pinter<br /><em>Várias Vozes</em>, edições Quasi, 2006Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-68693241603367212852008-02-21T15:58:00.000-08:002008-02-22T06:21:34.729-08:00A moral da história I - Harold Pinter"Os dramaturgos, sem dúvida, permitem-se hoje em dia profecias que cheguem, nas suas peças e fora delas. Avisos, sermões, admoestações, exortações ideológicas, juízos morais, problemas definidos com soluções incorporadas; tudo pode aquartelar-se sob a bandeira da profecia. A atitude por trás de coisas deste género pode ser resumida numa frase: «Estou-te a dizer!»"<br /><br />Harold Pinter<br /><em>Várias Vozes,</em> edições Quasi, 2006Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-28179401961310520892008-02-21T15:49:00.000-08:002008-02-22T06:21:14.913-08:00A moral da história - Harold Pinter"Uma peça não é um ensaio, nem deve um dramaturgo sob qualquer exortação prejudicar a consistência das suas personagens injectando um remédio ou uma justificação pelas suas acções no último acto, simplesmente porque fomos ensinados a esperar, faça chuva ou faça sol, pela "resolução" do último acto. Fornecer uma etiqueta moral explícita a uma imagem dramática em inevitável evolução parece-me ser fácil, impertinente e desonesto."<br /><br />Harold Pinter<br /><em>Várias Vozes</em>, edições Quasi, 2006Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-30222212884461844102008-02-21T15:12:00.000-08:002008-02-22T06:14:00.311-08:00O bloqueio de escritor - Christopher Vogler"Q – Have you ever suffered writer’s block? If so, how did/do you get past it?<br /><br />A – Aggh! Terrible writer’s block. One of the great things to deal with that is Julia Cameron’s idea of “morning pages” from THE ARTIST’S WAY, bless her heart. That got me writing something every day and made it habitual and much, much easier. I also learned from Natalie Goldberg who teaches that it is truly and simply making words flow through your fingers into the pencil or into the keyboard. The other key is having somebody else setting deadlines for me since I can’t do that for myself. A deadline is a great blessing."<br /><br />Christopher Vogler<br />entrevistado no site <a href="http://occsliceoforange.blogspot.com/2006/08/chris-vogler-legendary-writing-coach.html">http://occsliceoforange.blogspot.com/2006/08/chris-vogler-legendary-writing-coach.html</a><br /><br />Wikipedia:<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Christopher_Vogler">http://en.wikipedia.org/wiki/Christopher_Vogler</a>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-67281589626239661272008-02-21T14:55:00.000-08:002008-02-22T06:12:29.804-08:00Estrutura Narrativa e Personagem - Robert Mckee"The function of STRUCTURE is to provide progressively building pressures that force characters into more and more difficult dilemmas where they must make more and more difficult risk-taking choices and actions, gradually revealing their true natures, even down to the unconscious self.<br />The function of CHARACTER is to bring to the story the qualities of characterization necessary to convincingly act out choices. Put simply, a character must be credible: young enough or old enough, strong or weak, worldly or naive, educated or ignorant, generous or selfish, witty or dull, in the right proportions. Each must bring to the story the combination of qualities that allows an audience to believe that the character could and would do what he does."<br /><br />Robert Mckee<br />em entrevista ao site <a href="http://www.writersstore.com/article.php?articles_id=245&discount=ezine&source=ezine">http://www.writersstore.com/article.php?articles_id=245&discount=ezine&source=ezine</a>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-45489944927455052182008-02-21T14:46:00.000-08:002008-02-22T06:17:19.123-08:00O personagem é as suas escolhas - Robert Mckee"True CHARACTER is revealed in the choices a human being makes under pressure - the greater the pressure, the deeper the revelation, the truer the choice to the character's essential nature.<br /><br />Beneath the surface of characterization, regardless of appearances, who is this person? At the heart of his humanity, what will we find? Is he loving or cruel? Generous or selfish? Strong or weak? Truthful or a liar? Courageous or cowardly? The only way to know the truth is to witness him make choices under pressure to take one action or another in the pursuit of his desire. As he chooses, he is. "<br /><br />Robert Mckee<br />em entrevista no site <a href="http://www.writersstore.com/article.php?articles_id=244">http://www.writersstore.com/article.php?articles_id=244</a>Luís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-787577956678196077.post-65826978674362408782008-02-21T14:36:00.000-08:002008-02-22T06:14:54.975-08:00O incidente revela a personagem - Henry James"What is character but the determination of incident? And what is incident but the illumination of character?"<br /><br /><em>The Art of Fiction</em><br />Henry JamesLuís Filipe Soareshttp://www.blogger.com/profile/06399629333770385404noreply@blogger.com0