A moral da história III - Anthony Nielson

"A escrita teatral é uma daquelas coisas que é tanto subvalorizada como sobrevalorizada. Parece-me que não é preciso explicar isto. Mas nas raras ocasiões em que dou aulas, fico sempre surpreendido porque o dramaturgo é entendido como uma espécie de político sem partido. Neste momento, há alguns escritores muito bons aos quais se pode aplicar esta acusação, mas, para quem está a começar, isso é um fardo muito pesado. Quando eu perguntava aos estudantes, por exemplo, que ideias é que eles tinham, eles respondiam quase sempre com temas. Eles queriam escrever peças sobre o racismo, sobre os sem-abrigo, sobre a erosão da democracia. Eles queriam "dizer alguma coisa" e isto era visto como sendo um requisito fundamental para uma peça de teatro: ela devia "dizer alguma coisa". Claro que estes estudantes estavam frequentemente bloqueados e não eram produtivos. Tinham o seu tema, mas não faziam ideia de como proceder, porque não tinham vontade de aceitar que o dramaturgo é, nem mais nem menos, um contador de histórias - um descendente directo daquela pessoa que se sentava no largo da aldeia a contar histórias às crianças. Quando eram confrontados com isto, muitos dos estudantes eram extraordinariamente resistentes, ficavam desiludidos até, como se a narrativa fosse - em si própria - de alguma maneira, pouco aliciante e estivesse fora de moda. "Contem a história", insistia eu, «e os temas seguirão o seu caminho»."

Anthony Neilson
Prefácio a PLAYS ONE

Comentários

Mensagens populares